Lucros Recordes vs. Pacientes em espera: planos de saúde ampliam aanhos enquanto filas de atendimento se alongam
Lucros Exorbitantes, Atendimento Minguado: A equação que não fecha

Enquanto milhões de brasileiros enfrentam filas
intermináveis para consultas, exames e cirurgias, as operadoras de planos de
saúde comemoram um ano histórico: R$ 11,1 bilhões de lucro líquido em 2024, um
salto de 271% em relação a 2023. O valor, superior à soma dos resultados dos
três anos anteriores, acende um debate urgente sobre a priorização do lucro em
detrimento da qualidade do serviço — um conflito que coloca na mesa a pergunta:
quem realmente ganha com a saúde suplementar no Brasil?
Lucros Exorbitantes, Atendimento Minguado: A Equação que
Não Fecha
Os dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) nesta
quarta-feira (10) Isso significa que para cada R$ 100,00 gerados, as empresas
obtiveram cerca de R$ 3,16 de lucro, tota de R$ 350 bilhões em 2024.
O número, porém, esconde uma realidade ainda mais impactante: a sinistralidade do
setor — percentual da receita destinado a cobrir despesas assistenciais — caiu
para 82,2% no último trimestre de 2024, o menor patamar desde 2018.
Na prática, isso significa que as empresas estão gastando
menos com o que deveria ser sua razão de existir: a saúde dos clientes.
Enquanto isso, reajustes abusivos nas mensalidades e aplicações financeiras
agressivas turbinaram os ganhos. "É um modelo perverso: cobram mais,
gastam menos com assistência e lucram como nunca. Quem paga a conta é o
paciente, que espera meses por um atendimento básico", critica Ana Lúcia
Torres, coordenadora do Instituto de Defesa do Consumidor de Saúde (IDEC-Saúde).
Grandes Operadoras, Maiores Lucros: Quem Segura a Corda?.
Para especialistas, a estratégia é clara: limitar o acesso a
procedimentos de maior custo, demorar autorizações e ampliar a burocracia para
reduzir gastos. "Há uma política de gatekeeping: quanto mais
obstáculos criam, menos usam os serviços. O lucro sobe, mas o paciente fica
refém de uma carteirinha que não cumpre sua promessa", explica o
economista de saúde Marcelo Costa.
Filas que Custeiam Lucros: A Angústia dos Usuários
Enquanto as operadoras comemoram números verdes, histórias como a de Mariana
Souza, 58 anos, de São Paulo, ilustram o outro lado da moeda. Há oito meses,
ela aguarda uma ressonância magnética para investigar dores crônicas na coluna.
"Já liguei dez vezes. Dizem que não há vagas ou que preciso de mais
documentos. É desumano", desabafa. Casos como o dela se multiplicam: em
2024, as reclamações contra planos de saúde por negativa de cobertura ou demora
no atendimento cresceram 40%, segundo o PROCON-SP.
ANS Sob Pressão: Regulação ou Conivência?
A ANS atribui o cenário à "eficiência financeira" das operadoras, mas
evita comentar o colapso na assistência. Para deputados da Comissão de Saúde da
Câmara, a postura da agência é omissa. "A ANS virou refém do setor. Como
aceitar que as operadoras tenham lucros bilionários enquanto usuários morrem na
fila?", questiona a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que propõe uma
CPI para investigar as práticas do setor.
O Futuro da Saúde Suplementar: Lucro ou Direito?
Enquanto o governo federal estuda medidas para frear abusos, como limitar
reajustes e exigir metas de atendimento, as operadoras seguram a cartada: em
nota, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) defende que os
lucros "são reinvestidos em melhorias". Usuários como Mariana, porém,
não veem mudanças. "Melhoria para quem? Estão é melhorando os bolsos dos
acionistas", revolta-se.
Enquanto isso, o setor segue seu curso: em 2025, as
projeções já apontam para novos recordes de lucratividade. E as filas? Essas,
garantem as operadoras, "dependem da disponibilidade da rede
credenciada".
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